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Coleta seletiva: geração de renda e de cidadania
O processo de sobrevivência humana altera a natureza de várias formas. A geração de resíduos sólidos urbanos, que comumente chamamos de lixo, é uma dessas alterações. Nem todos os resíduos são inservíveis, muitos podem ser reciclados ou reutilizados. A coleta seletiva é justamente o processo de separação do que pode ser reciclado, ou seja, do que pode voltar para a indústria. Esse é um trabalho digno e importante, que gera renda e cidadania para os participantes. Vejamos o caso de Resende Costa.
Em 2010, o setor municipal de Assistência Social recebia a proposta de um projeto modelo, tendo como foco principal a coleta seletiva. A proposta inicial era trabalhar com educação ambiental nas escolas e com a geração de trabalho e renda através de oficinas que reutilizassem o material reciclável.
A montagem do projeto contou com vários setores da Prefeitura: Secretarias de Educação, de Agropecuária e Meio Ambiente, de Saúde, de Transportes, de Obras e, principalmente, o setor de Assistência Social. Inicialmente, a coleta seletiva acontecia apenas uma vez por semana no centro da cidade. Havia treze famílias em situação de vulnerabilidade social envolvidas. Os representantes dessas famílias eram responsáveis por auxiliar na divulgação do projeto através de panfletagens e outros, coletar o material de porta em porta, separá-lo e, por fim, vendê-lo a um atravessador.
A primeira venda levou cerca de dois meses para acontecer e, mesmo recebendo pelos produtos, o valor gerado foi de aproximadamente R$ 700,00. Uma dificuldade no processo foi, e ainda continua sendo, não poder vender os recicláveis diretamente para as fábricas, uma vez que não há como emitir nota fiscal.
Ainda em 2010, com o apoio do Estado e da Prefeitura, foram adquiridos: caminhão, prensa, balança digital, carrinhos e lixeiras. No entanto, a utilização concreta desses bens só ocorreu em meados de 2011. Nesta mesma época, a cidade completava 99 anos e o tema das comemorações foi a coleta seletiva. Foi realizada uma grande campanha solicitando a adesão da população ao projeto e foi ampliada a coleta para todos os dias e para todos os bairros. Então, deparou-se com grande quantidade de material reciclável para ser separado e não havia pessoas suficientes para fazê-lo.
A ideia de inserir no projeto os presos em regime fechado, com bom comportamento, para realizarem a separação do material reciclável veio do então secretário de Agropecuária e Meio Ambiente. Os reclusos, a cada três dias trabalhados, ganhariam um dia de liberdade. O trabalho social com os cinco novos envolvidos foi intenso. Muitos encontros foram realizados com o objetivo de promover a interação, a criação de laços, o respeito, a reflexão, o empreendimento e a autonomia. Como havia dificuldades de pessoas para a coleta, pouco depois foi solicitada autorização para os presos realizarem também a coleta. Então, nova campanha foi realizada, solicitando à população que deixasse o material do lado de fora das casas.
Atualmente, a coleta ocorre em todos os bairros da cidade nas segundas, terças, quintas e sextas-feiras. O motorista e o coletor são funcionários da Prefeitura, que após recolherem os recicláveis, os levam diretamente para o antigo matadouro, no Tijuco, onde são separados. A prensagem é feita no Parque de Exposições, por necessidade de energia elétrica. O projeto conta com cinco reclusos, que são responsáveis por separar, prensar e vender o material recolhido. Esses, para permanecerem na coleta, devem manter o bom comportamento dentro e fora do projeto. O foco do trabalho social não é o que eles fizeram no passado, mas o que serão capazes de fazer no futuro.
A carga a ser vendida é fechada mensalmente quando se atinge cerca de 60 fardos, que chegam a pesar até mais de 400 kg cada. O valor da carga varia de acordo com o material disponível, gerando R$ 3.000,00. Por exemplo, dos 60 fardos vendidos, 30 são de papelão oriundo do setor comercial, que vale cerca de R$ 0,30 cada kg. Assim, percebe-se que a coleta seletiva deve ser melhorada nas casas. O reciclável de Resende Costa é muito bem aceito no mercado, uma vez que se apresenta limpo. Isso faz dele um material com maior valor e maior poder de negociação junto aos atravessadores. Destaca-se que o dinheiro gerado na venda dos recicláveis pertence ao setor de Assistência Social da Prefeitura que o investe em programas sociais.
Algumas necessidades imediatas do projeto são: adoção de uma rotina no itinerário e no horário da coleta, construção de um galpão de separação e a criação de uma associação de recicladores. Destaca-se que a coleta seletiva é um projeto que envolve diversas áreas. Seu caráter social é evidente. Hoje temos principalmente presos, mas antes de tudo temos gente. Seu caráter ambiental também é evidente, pois contribuímos para diminuição da produção de lixo. Por fim, temos geração de trabalho e renda, temos garantia de dignidade para as pessoas que trabalham na coleta seletiva e temos esperança de que podemos crescer muito mais, enquanto associação e enquanto seres humanos.
Alessandra Guse dos Santos*